Situação dos recém-quadros Cabo-verdianos face ao primeiro emprego

É preocupante a realidade dos milhares de universitários recém-formados face ao desemprego. 

Terminar um curso superior já não é garantia de mudança de vida ou a realização de um sonho, pelo menos de imediato. 

A cada ano se formam em média dois mil alunos nas diversas áreas do conhecimento nas universidades Cabo-verdianas e começa o desespero para encontrar o primeiro emprego. 

Não vou exagerar e dizer que não há vagas de emprego no país. Há vagas, sim. Mas o problema é a inserção nessas oportunidades que de vez em quando aparecem. E, das vagas que aparecem, a maioria exige que o candidato tenha de dois a cincos aos de experiência na área, o que elimina da equação qualquer recém formado. 

Foto: Reprodução Academia do Universitário

Não vou afirmar que essas empresas que exigem que o candidato tenha alguns anos de experiência não estão pensando nos recém-quadros, porque para qualquer vaga a que se procura preencher, qualquer empresa quer encontrar um profissional que tenha experiência na função a que é recrutado, mas essa condição elimina de imediato um recém-formado que ainda não tem nenhuma experiência comprovada. 

Resta a opção de um estágio profissional como forma de ganhar experiência e poder estar melhor preparado para candidatar a uma vaga. Mas, onde encontrar uma oportunidade de estágio? 

Esse é o problema/desafio. Raramente aparecem oportunidades de estágio e quando surge alguma oportunidade os concursos não são transparentes, muitos candidatos nunca recebem sequer uma resposta de sua candidatura, sem contar que muitas vezes essas vagas já estão preenchidas. O concurso é uma mera formalidade (porque é Lei). Além disso, nesse processo de triagem há ainda o chamado "apadrinhagem" - se você não tiver um "padrinho" que mexa os pauzinhos a seu favor no processo, já se foi o sonho. 

O tão esperado estágio profissional na administração pública este ano (2017), por exemplo, teve apenas 54 vagas para as diversas áreas do conhecimento, num universo de quase seis mil candidaturas. Apenas a área de Administração/Gestão é que teve doze vagas para as dez ilhas do país. Dá pra entrar aí? Bem difícil, eu mesmo sou um dos que ficara pra trás. 

Para o então primeiro ministro do País, José Maria Neves, a solução está em "investir no turismo, nas indústrias culturais, no cluster do mar, nas energias renováveis, nas novas tecnologias, na agricultura, para gerar vagas que absorvem esta mão de obra formada e com vontade de trabalhar.

Isso é, sem dúvida, meios que podem inverter esse quadro, mas essas políticas e estratégias não saem do papel, são palavras proferidas em discursos políticos, eventos governamentais, apenas como forma de fazer-nos acreditar que há alguma esperança, mas nada de concreto à vista e que podemos nos segurar com mais confiança.

E se pensarmos em empreendedorismo, faltam políticas de crédito em condições que ajude esses quadros a abrirem uma empresa e desenvolver seu próprio negócio. 

Outro problema gravíssimo são dívidas acumuladas durante o período estudantil e que muitas vezes impede o universitário de fazer exames e, consequentemente, abandonar o curso; e, se o dinheiro das propinas pago à Universidade foram de empréstimos bancários, o universitário termina o curso com o peso na consciência de que precisa encontrar um emprego o mais rápido possível para poder começar a pagar o banco, que geralmente dá apenas meses de carência, sem contar com as altas taxas de juros. 

Essa é uma questão que o PM diz estar resolvendo com as universidades.

Em 2008, passei três meses tentando conseguir um crédito no valor de mil contos cabo-verdianos para estudar fora do país, mas depois de muita enrolação, recebi uma carta da administração bancária dizendo que não podiam satisfazer o meu pedido, sem contar que já tinham exigido cinco fiadores e todos tinham que abrir uma conta no banco, com um depósito de dez mil escudos cabo-verdianos. Hoje, quando olho para trás, fico feliz que não tenha dado certo, mesmo tendo que suar muito, sendo bolsista os seis anos que passei no Brasil para terminar um curso de quatros anos, por falta de condições financeiras. No entanto, quando terminei o curso me senti aliviado por não ter que me preocupar em pagar o banco.

De certa forma parece que não há uma saída aparente e cada vez mais a situação se complica, com mais alunos que se formam a cada ano e sem poderem encontrar um emprego, pelo menos de imediato. Há alguma solução? O que fazer diante dessa situação? 

Aos que estão na mesma luta, digo que apenas continuem buscando oportunidades e nunca parem de estudar.

Por Isaías Cardoso
Webmaster Portal Trabadjador

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